O Mar
o poeta nada merece o mar
nenhuma palavra desmerece o mar
o homem nada não conhece o mar
mergulha na água sua cabeça não entende o mar
a água do seu corpo não navega o mar
o barco a vela não acende o mar
ninguém nada reconhece o mar
só o mar sabe nadar
o homem no mar imenso nada
penso
o poeta no mar
nada
no imenso
o mundo
nada
mesmo
a mulher nada se oferece ao mar
o mar desconhece o mar
o homem nada se assemelha ao mar
o homem nada nada nada nada nada nada nada nada
não
alcança
o mar
tradução do poema O Mar, de Beatriz Azevedo, por Philippe Buzy
le poète ne mérite en rien la mer
aucune parole ne démérite la mer
l’homme ne connaît rien à la mer
plonge sa tête dans l’eau ne comprends pas la mer
l’eau de son corps ne navigue pas en mer
le bateau la chandelle de sa voile ne met pas le feu à la mer
personne ne reconnaît en rien la mer
seule la mer sait nager
l’homme qui nage dans la mer immense rien
je pense
le poète en mer
rien
dans l’immensité
le monde
un rien
même
la femme nage et s’offre à la mer
la mer méconnait la mer
l’homme rien nage s’assimile à la mer
l’homme nage nage nage nage nage nage nage
rien
n’atteint
pas
la mer
Aranha Funâmbula
aranha funâmbula
tece seu arame
fio de aço com finíssima argamassa de pétala
linha de pluma
aranha astronauta
flutua e salta
estranha entranha de traços
aranha pendurada
prumo pêndulo rasante sem asa
guindaste de ar e nadas
enquanto eu construía a casa
areia tijolo cimento e sol
ela desenhava suas mandalas
se apossava dos cantos
vãos
quinas
esquinas
me olhava com as patas
e desprezava
aranha, fala :
pra que tanta tralha ?
com quase nada
a aranha criava
sua rede de seda e arte
porque sabe
– cedo ou tarde –
parte-se
tradução do poema Aranha Funâmbula, de Beatriz Azevedo, por Philippe Buzy
araignée funambule
tu tisses ton fil d ‘archal
fil d’acier à l’infime finesse d’un pétale de mortier
ligne de plumes en parure
araignée astronaute
tu flottes et sautes
traits d’étranges entrailles
araignée suspendue
fil à plomb pendule rasant sans aile
grue gréée d’air et de riens
tandis que je construisais la maison
sable brique ciment et soleil
elle dessinait ses mandalas
s’emparait des coins
des vides
des angles
des encoignures
m’observait de ses pattes
et méprisait
araignée, dis-moi :
tant de filet pourquoi faire ?
avec presque rien
l’araignée créait
son réseau de soie avec art
parce que tu sais
– tôt ou tard –
il se rompt
A flor azul do silêncio
apaixonar-se por uma puta
ter o abismo nos olhos
revoltar-se contra a banalidade dos manuais
amar os poetas que se odeiam
sobretudo aqueles que se insultam mutuamente nas rodas literárias
não pertencer a panelinhas
cozinhar as tripas da poesia no caldeirão dos bruxos
namorar o crepúsculo
trair o espelho e o tempo
casar-se com o sol
colher no asfalto a flor azul do silêncio
depois da passagem apocalíptica do caminhão de lixo
perder o trem perder a hora perder a conta
perder o amigo e a piada
mas não perder a esperança nem o humor
não perder a paciência
nem a suprema soberania do amor
tradução do poema A flor azul do silêncio, de Beatriz Azevedo, por Philippe Buzy
la fleur bleue du silence
se prendre de passion pour une pute
avoir un abîme dans les yeux
se révolter contre la banalité des manuels
aimer les poètes qui se haïssent
surtout ceux qui s’insultent mutuellement dans les joutes littéraires
mélanger torchons et serviettes
cuisiner les tripes de la poésie dans les chaudrons des sorciers
s’énamourer du crépuscule
trahir le miroir et le temps
épouser le soleil
cueillir dans l’asphalte la fleur bleue du silence
après le passage apocalyptique du camion poubelles
rater le train perdre l’heure perdre la notion des comptes
perdre un ami et rater la plaisanterie
mais ne perdre ni espoir ni humour
ne point perdre patience
ni la suprême souveraineté de l’amour
palavras não me defendem da dor
músicas não escolhem a chuva não conhecem
a cor e a solidão
da dúvida olhos não vêem a dúvida das chuvas que não lavam a dor das palavras que não explicam as fugas
e a escuridão profunda da música
tradução do poema de Beatriz Azevedo, por Philippe Buzy
les mots ne me
défendent pas contre la douleur
les musiques ne
choisissent pas la pluie
ne connaissent pas
la couleur et la solitude
de l’incertitude les yeux
ne voient pas l’incertitude
des pluies qui ne
lavent pas la douleur des
mots qui
n’expliquent pas les fugues
et l’obscurité
profonde de la musique
tradução de Idade da Pedra de Beatriz Azevedo, para o Alemão, por Imke Wangerin
Steinzeitalter
technologisches Steinzeitalter
kybernetisches Steinzeitalter
Steinzeitalter
Steinzeitalter
Steinzeitalter
globalisiert, sterilisiert, immunisiert
computisierte Tomografie
Steinzeitalter
Gemetzel, Familienmord, Aids, Suizid
magnetische Resonanz
Reisen durchs Internet
Steinzeitalter
Steinzeitalter Carandirú
Steinzeitalter Candelária
Steinzeitalter Vigário Geral
Steinzeitalter Carajás
Steinzeitalter Feliz Natal
Klonen
Steinzeitalter
asexuelle Belästigung
Steinzeitalter
das Ende des Wassermanns Millennium 2000
Steinzeitalter
elektronisches Steinzeitalter
Überschall-Steinzeitalter
komisches, tragisches Steinzeitalter
pharaonisch, bionisch
das Steinzeitalter der Atombombe
Steinzeitalter Carandirú
Steinzeitalter Candelária
Steinzeitalter Vigário Geral
Steinzeitalter Carajás
Steinzeitalter Feliz Natal
Das Ende der Welt
Das Ende der hysterischen Utopie
Beginn der hysterischen Kirche
Des hysterischen Pastors/Hirte?
Der unfruchtbaren Herde
Vor dem Gott des Fernsehers
Das vollkommene Vergessen
des fundamentalen Steins
des ursprünglichen Steins
des mythischen Steins
des philosophischen Steins
der rhythmischen Wahrheit des Stammesrituals
des biblischen Steins
des Petrusgesteins
des vedischen, schamanischen Steins
des uralten Steins
des transzendentalen Sternen-Steins
Stein, der offenbart
Orakel der Götter
heiliger Stein
Steinzeitalter Carandirú
Steinzeitalter Candelária
Steinzeitalter Vigário Geral
Steinzeitalter Carajás
Steinzeitalter Feliz Natal
Die Welt ist im Steinzeitalter der Skepsis
Im Steinzeitalter der Apathie
Des praktischen Steins
Steinzeitalter ohne Ethik
Zynisches Steinzeitalter
Der demokratische, apathische, lächerliche Stein
Skeptisch, zynisch und mathematisch
mega store note book lap top
disk sexo jet ski hara kiri
fast food sex shop
pau de arara hopi hari hot dog
jesus pagode xuxa celular
deus me livre delivery God
i.n.p.s. i.n.s.s. i.s.s. bndes
f.h.c. m.s.t. c.n.b.b. t.r.t
éfebeái funai
febem funabem
c.p.i. u.t.i. c.t.i. f.m.i.
dialeto yankee tupi
Steinzeitalter Carandirú
Steinzeitalter Candelária
Steinzeitalter Vigário Geral
Steinzeitalter Carajás
Steinzeitalter Feliz Natal
virtuelle Realität
reales Steinzeitalter
des realen Hungers
des Albtraums der Dunkelheit
in den Straßen dieser Kapitale
des nationalen Steinzeitalters
des Steinzeitalters der globalen Welt
biologisch abbaubar
biologisch verdorben
Spülmittel-Steinzeitalter
Möchtegern-Steinzeitalter
Steinzeitalter der solidarischen Gemeinschaft
Steinzeitalter der einsamen Gemeinschaft
Steinzeitalter des Egoismus und des Individualismus
Des kleinsten Steinchens, der nur mir gehört
meines, kleinen, verwöhnten Steinchens
wenn diese Straße meine wäre
es ist Holz, es ist Stein, es ist das Ende des Weges
Steinzeitalter Carandirú
Steinzeitalter Candelária
Steinzeitalter Vigário Geral
Steinzeitalter Carajás
Steinzeitalter Feliz Natal
das rohe Steinzeitalter
das bescheuerte Steinzeitalter
der Eselsstein der Auseinandersetzung
der Stein des Streits
der Stein der Intoleranz
der Stein des Gesindels
der Stein der Ignoranz
der Stein des Gesindels
das Steinzeitalter der Ignoranz
das Steinzeitalter der Habsucht
Steinzeitalter Steinzeitalter
zersplittertes Steinzeitalter
des Geschäfts des Steins
des chemischen Steins
des Verfalls des Steins
der Ausnutzung des Steins
des totalen Verlustes des Steins
und der schöne Stein
der wertvolle Stein
und der Stein und der Stein und der Stein
und der Stein hat damit nichts zu tun
wer will, der möge den ersten Stein werfen
PERIPATÉTICO poema-de-chão
dei o primeiro passo para trás e já me pergunto por que estou andando de costas agora neste momento o que me move por onde não vejo vendo no chão as letras que nunca vi no chão porque elas sempre estiveram em outros lugares mas nunca embaixo dos meus pés como agora eu pisando nas palavras antes mesmo de saber com os olhos pisando com os pés o pé da página do livro da cidade que esta rua escreve para quem vê de cima para quem voa vendo o movimento dos automóveis dança de bauhaus ou para quem anda quem é a dança como você por exemplo peripatético andando de costas muito curioso por exemplo ou corajoso por exemplo ou ou ou pateta ou crítico achando tudo isso uma bobagem uma viagem de volta um vodu uma vadiagem ou em último caso uma viadagem da minha parte ou ainda uma obra de arte da linguagem a conversa fiada de poeta redemoinhos de palavras no liquidificador as cascas da cebola descascando palavras cozinhando a prosa passo a passo descendo esta escada quantos degraus ainda a poesia vai deslizar no tempo me desesperar nesta suspensão que parece não ter fim mas tem sim uma surpresa
:
agora vamos virar esta página virar esta esquina na mesma máquina em movimento perpétuo de andar sobre as palavras agora misturadas com a sombra das outras com o eco das esquinas quebradas bruscamente com buracos no meio da frase um poema sobre o meio do poema paquerar a cidade parar a cidade para ler o poema fazer a cidade passar dentro do poema no ventre do poeta o poema passarela para ela lendo-se neste poema que é um problema para a cidade andando atrás das palavras com este anzol este anzolho pescando peixes para comer embaixo da sola do meu sapato em plena metrópole eu andando devagar enquanto tudo vai a galope eu aqui caindo neste golpe nesta armadilha que me ilha no centro das palavras de um poema esdrúxulo um luxo de poema explícito sujo com buracos no meio dos edifícios um poema difícil de se exibir nos meios em certos meios que só justificam os fins um poema meio sem fim que não acredita no fim do poema e quer parar a cidade para ler o poema fazer a cidade passar dentro do poema a cidade ser o poema do futuro agora nesse poema que é um presente para a cidade
PERIPATÈTIC
Traducción para el Catalán : Carles Hac Mor
he donat el primer pas enrera I jo em pregunto per què estic caminant d’esquena ara en aquest moment allò que em mou per on no veig veient a terra les lletres que mai he vist a terra perquè sempre estàven en altres llocs però mai sota els meus peus com ara jo trepitjant les paraules abans mateix de saber amb els ulls trepitjant amb els peus el peu de pàgina del llibre de la ciutat que aquest carrer escriu per a qui veu des dalt per a qui vola veient el moviment dels automòvils dança de bauhaus o per a qui camina qui és la dança com vostè per exemple peripatètic caminant d’esquena molt curiós per exemple o coratjós per exemple o o o tonto o crític trobant tot aixo una bestiesa un viatge de tornada un Vudu una buidor o en darrer cas una mariconada de part meva o fins I tot una obra d’art del llenguatge la conversa inconsistent de poeta remolins de paraules en la liquadora les pells de ceba pelant paraules cuinant la prosa pas a pas passant d’una línia a l’altra baixant aquesta escala quants esglaons encara la poesia lliscará en el temps desesperar-me en aquesta suspensió que sembla no tenir fi però té sí una sorpresa
:
ara girarem aquesta pàgina girar aquesta cantonada en la mateixa màquina en moviment perpetu de caminar damunt les paraules ara barrejades com l’ombra de les altres com l’eco de les cantonades trencades bruscament com clots enmig de la frase un poema sobre la meitat del poema exibir-se del poema festejar la ciutat parar la ciutat per llegir el poema passar així la ciutat dins el poema la ciutat ser el tema llegint-se en aquest poema que és un problema per a la ciutat caminant darrera de les paraules amb aquest ham pescant peixos per a menajr sota de la sola de la meva sabata en plena metrópolis jo caminant lentament mentre tot va al galop jo ací caient en aquest cop en aquesta trampa que m’ailla en el centre de les paraules d’un poema esdrúxulo um luxo de poema explícit sujo com forats enmig dels edificis un poema difícil d’exibir-se en els mitjans en certs mitjans que només justifiquem els fins un poema mig sense fi que no creu en la fi del poema I que vol parar la ciutat per llegir el poema passar així la ciutat dins el poema la ciutat ésser el poema del futuro ara tema d’aquest poema que és un regal per a la ciutat